top of page

Cinco estratégias podem impedir que ambientes negativos solapem sua inteligência, criatividade e eng


Quando estava fazendo pós-graduação em Harvard, gostava de conhecer as diferentes bibliotecas do campus para mudar de ares. Cada uma delas, como a biblioteca da faculdade de direito e a biblioteca da faculdade de design, não só tinha uma aparência diferente como também uma atmosfera distinta.


Comecei a notar que, sempre que eu estudava na biblioteca da faculdade de direito, por exemplo, saía frustrado, irritado e esgotado, sem nenhuma razão aparente. O que poderia estar drenando a minha energia e o meu foco na biblioteca de direito e não em qualquer outra biblioteca de Harvard?


Encontrei a resposta em uma conversa com outra estudante de pós-graduação. Ela já estava havia um tempo na universidade e conhecia todos os locais para estudar que havia no campus. A estudante me disse que a Biblioteca Widener [da faculdade de artes e ciências], onde a maioria dos alunos estudava, era “uma mistura agradável de otimismo da juventude e empenho nos estudos, com uma leve redução da inadequação” ou, em outras palavras, um bom lugar para encontrar a motivação a fim de recuperar o terreno perdido em projetos nos quais você estivesse ficando para trás.


Já a biblioteca da faculdade de teologia, ela descreveu como “um lugar austero, mas com profundos e ocultos toques de inspiração”, ou seja, um bom lugar para escrever trabalhos sobre temas amplos. As bibliotecas “aveludadas e entulhadas” dos dormitórios da graduação eram boas, segundo ela, para mandar e-mails e namorar.


E a biblioteca da faculdade de direito? Tinha “um belo layout, mas com um tom ácido penetrante que deixa um gosto amargo na boca”. Concordei. A biblioteca da faculdade de direito era realmente uma das mais bonitas, mas, depois de algumas visitas, passei a evitá-la como o diabo evita a cruz.


A explicação para isso me permite introduzir o tema do meu novo livro, o que eu chamo de “grande potencial”. Cada pessoa tem um pequeno potencial e um grande potencial. O pequeno é o poder de um indivíduo isolado, enquanto o grande é o poder desse indivíduo reforçado por outros indivíduos.


Assim como a felicidade, o potencial é um conceito coletivo. Isso entendido, fica fácil compreender como é importante cercar-se de influências positivas, especialmente em ambientes hipercompetitivos – seja na universidade, seja nas empresas. Só que as influências negativas nunca foram tão numerosas.


E o que acontecia na biblioteca da faculdade de direito de Harvard, que deixava um amargor na boca?


Todo mundo sabe que, por ser uma das faculdades mais hipercompetitivas de uma universidade já hipercompetitiva, a faculdade de direito de Harvard é uma verdadeira placa de Petri de negatividade, ansiedade, frustração e estresse das pessoas. Em suas pesquisas, minha colega Liz Peterson descobriu que, apesar de os calouros entrarem na faculdade de direito com níveis médios de pessimismo e depressão, depois de quatro meses esses níveis triplicam em relação à média nacional.


Além disso, ao contrário dos alunos da escola de negócios, que se encontram toda semana para eventos sociais, os alunos de direito só participam de dois eventos por ano organizados pela instituição, levando a mais concorrência e menos conexão. Por isso você se sente tão vulnerável naquela biblioteca; devido à interconexão com o estresse alheio. Nosso cérebro é programado para o contágio emocional e social. Se a presença de uma única pessoa positiva em uma comunidade pode “contagiar” as demais, pesquisas demonstram que também podemos ser contagiados por negatividade, estresse e apatia – como se fôssemos fumantes passivos disso tudo.


O estresse passa por visão, audição e até pelo cheiro. Cercarmo-nos de pessoas negativas e estressadas nos modifica rapidamente; passamos de motivados e positivos a ansiosos e negativos.


Passamos o dia vulneráveis ao estresse de nossos colegas de trabalho em escritórios sem divisórias, absorvendo notícias deprimentes ou tensas, além de comentários maldosos nas mídias sociais. Sentimos profundamente a linguagem corporal ansiosa das pessoas no metrô, no ônibus, no avião. Essas forças são inevitáveis e é impossível fugir delas. São forças nocivas que se infiltram em nosso ecossistema sem percebermos.

Por isso, proponho um minicurso de “Defesa Contra as Artes das Trevas”, como o feito pelo personagem Harry Potter, de J. K. Rowling, do qual sou fã. Não vou ensinar nenhum feitiço aqui, mas apresentarei cinco estratégias para de defesa, desarme e derrota das forças que ameaçam drenar seu potencial [por causa da interconexão ambiental]:


• ESTRATÉGIA 1: Construir um fosso.

• ESTRATÉGIA 2: Uma fortaleza mental.

• ESTRATÉGIA 3: O aikidô mental.

• ESTRATÉGIA 4: Tirar férias.

• ESTRATÉGIA 5: Escolher as batalhas.


Estratégia 1: construir um fosso

O Mont Saint-Michel, na França, é um dos lugares mais lindos do mundo. Durante a Guerra dos Cem Anos, um pequeno grupo de soldados franceses alocados na ilha conseguiu impedir um ataque do exército inglês, muito mais forte. Não porque os franceses conheciam técnicas de combate mais eficazes, tinham um planejamento melhor ou mais sorte, mas porque o monte é uma “ilha de maré”. Tirando o período da maré baixa, a cidadela (com seu icônico mosteiro no alto) é cercada por um fosso natural que a separa do continente, e que pode chegar a 14 metros de profundidade. Os soldados franceses não precisavam passar o dia todo se defendendo. Durante a maré baixa, tinham a chance de se organizar e poupar energia para impedir os ataques.


Um “fosso de maré” é a metáfora perfeita para o tipo de fosso que eu uso no meu dia a dia. Pesquisadores de psicologia positiva já sabem há algum tempo que ouvir ou ler notícias negativas pode ter um efeito imediato sobre o nosso nível de estresse, mas novos estudos que Michelle Gielan e eu conduzimos em parceria com Arianna Huffington mostram a extensão em que esses efeitos podem prejudicar a motivação e o potencial. Descobrimos que pessoas expostas a apenas três minutos de notícias negativas de manhã têm 27% mais chances de reportar que tiveram um dia infeliz seis a oito horas depois. É que sentimos que nosso comportamento não faz diferença alguma para aquilo e, na psicologia, essa crença de que nosso comportamento é irrelevante para superar as dificuldades tem sido associada a um baixo desempenho e a maiores chances de depressão.


Além disso, a mídia social é como um canal de notícias sempre ligado, e o conteúdo nem precisa ser negativo para nos deprimir ou chatear. Se vemos fotos dos nossos amigos em uma viagem fabulosa enquanto estamos no escritório trabalhando feito camelos em um cubículo, podemos ser vulneráveis a emoções tóxicas, como inveja, amargura e ressentimento.


É importante defender nosso Mont Saint-Michel. Uma estratégia muito simples é construir um fosso em nossa rotina diária. Desligar-se do mundo antes do café da manhã e depois de ir para a cama é uma boa ideia – não ler notícias, abrir e-mail, olhar as mídias sociais, assistir à TV ou ouvir o rádio. Aproveitar para meditar ou, ao menos, passar períodos em silêncio sempre que possível também é bom (por exemplo, 5 minutos dirigindo no carro ou nos intervalos comerciais diante da TV). Evitar reuniões inúteis funciona muito bem – elas são um verdadeiro buraco negro de energia e produtividade. Para saber quais reunião são inúteis, faça como os líderes do Dropbox e cancele todas as reuniões durante duas semanas. Depois, reagende só as que, em uma avaliação de benefício, mostrarem ter feito falta. Mas vá reduzindo o tempo de duração. Crie, por fim, um filtro automático para o seu computador, para não receber todo tipo de informação.


Estratégia 2: uma fortaleza mental

Militarmente, uma fortaleza é um lugar para o qual o lado que estiver perdendo uma luta pode recuar, um local abastecido de suprimentos e reforçado em caso de ataque. Criar uma fortaleza mental é uma prática que provê um estoque de reservas mentais para as quais você sempre vai poder recorrer em circunstâncias difíceis. A prática diária da gratidão é um exemplo de uma fortaleza mental. Veja exemplos de outras práticas que você pode usar para se defender do estresse, das adversidades ou da tristeza: (1) criar um ritual de preparação para o otimismo, tentando todos os dias pensar em três coisas boas que aconteceram nas últimas 24 horas, ou reservando dez minutos por semana, sempre no mesmo dia, para focar os aspectos positivos da vida; (2) criar uma “entrada positiva” nas conversas, para neutralizar tons negativos – troque o início de seus telefonemas com “Estou atolado de trabalho” por “Que bom falar com você!”; (3) investir no mindfulness, nem que sejam dois minutos por dia dedicados a se focar em observar a respiração.


Estratégia 3: O aikidô MENTAL

Alia Crum, do Mind & Body Lab de Stanford, e seu pai, Thomas Crum, elaboraram uma técnica incrível. Os dois são versados na arte marcial do aikidô, uma luta na qual, em vez de tentar bloquear um ataque, você usa a energia do adversário para redirecionar a força dele. Eles aplicaram os princípios dessa arte marcial para lidar com o estresse. A ideia é parar de tentar bloqueá-lo ou rejeitá-lo e, em vez disso, redirecioná-lo de um jeito mais positivo. Você também pode aplicar o aikidô mental em sua vida. Para redirecionar a força do estresse e assim torná-la positiva, a primeira coisa que pode fazer é se dar conta de que, na raiz de cada fonte de estresse, está o propósito.


Se perceber que está começando a se estressar com alguma coisa, pergunte-se: “Por que isso importa?”. Pela felicidade de seus filhos? Pelo compromisso com a equipe? Você pode anotar a resposta e colar um post-it em seu computador ou sua geladeira para se lembrar.

O objetivo do aikidô mental é fazer o cérebro redirecionar essa energia que seria desperdiçada no estresse para coisas que têm propósito. Além disso, ver as dificuldades como uma oportunidade de melhorar também contribui para o aikidô mental. Uma terceira forma de aikidô mental envolve mudar o modo como conceituamos o fracasso. Como no caso do estresse, muita gente crê que fracasso é algo a ser evitado. Na verdade, ele também pode ser fonte de energia e motivação se visto como aprendizado.

Faz parte da natureza humana sermos um pouco egocêntricos, acreditando que somos a causa do problema, o alvo da piada ou a razão pela qual uma plateia repleta de fãs de beisebol parece distraída na noite da final do campeonato. Em geral, não somos.


Estratégia 4: tirar férias

A maior vantagem competitiva da economia moderna é um cérebro positivo e engajado. Pesquisas comprovam que, quando o cérebro está em “modo positivo”, a produtividade aumenta 31%; as vendas, 37%; a criatividade triplica e as receitas também podem triplicar. Isso se consegue tirando férias – não adiando ou pulando as férias.


Quaisquer férias? Não. Em um estudo com 400 viajantes do mundo todo, descobrimos que as férias resultam em mais felicidade e energia, em 94% dos casos, se a pessoa sair da cidade onde mora (quanto mais longe, melhor) e se planejá-las bem. Isso significa planejar com um mês de antecedência e preparar os colegas de trabalho para sua ausência, encontrar alguém que conhece bem o lugar para lhe apresentar os principais pontos e resolver os detalhes da viagem antes da partida (para não se estressar lá).


Estratégia 5: escolher as batalhas

Hoje ouvimos muito sobre o valor da perseverança, e diversas pesquisas associam esse atributo ao alto desempenho e ao sucesso. Mas, na vida profissional e pessoal, quando tropeçamos repetidamente em determinado caminho, em vez de levantar, sacudir a poeira e voltar a tentar (vez após vez), pode ser melhor parar para saber se é o caminho certo.

O que estou dizendo é que, às vezes, a melhor estratégia é desistir. Em vez de continuar namorando aquela pessoa negativa que se recusa a mudar, desista. Em vez de dedicar toda a sua criatividade, seu tempo e sua energia ao emprego terrível no qual você vive sendo desrespeitado e desvalorizado, desista. Algumas circunstâncias estão além do nosso controle – nem o fosso, a fortaleza, o aikidô mental e as férias resolverão a negatividade. Não fique esperando para trilhar outro caminho.


Shawn Anchor é considerado um dos maiores pesquisadores de felicidade da Harvard Business School. Autor de O jeito Harvard de ser feliz, ele acaba de lançar no Brasil seu novo livro Grande potencial (ed. Benvirá). Este artigo se baseia em highlights do livro.

Últimos posts
Arquivo
bottom of page