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Primeiras mulheres executivas estão prestes a se aposentar.

Vanessa Cepellos, da FGV, estudou essas executivas e constatou que muitas ainda têm dificuldade – e medo – de pensar no que fazer após a carreira.

Vanessa Cepellos, da FGV: ela entrevistou 58 executivas, com 40 anos ou mais, para saber como vivenciam o envelhecimento (Germano Lüders/VOCÊ S/A)

A entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho brasileiro aconteceu tardiamente nos anos 70. Por isso, estamos diante da primeira geração de executivas em vias de se aposentar.


O assunto foi objeto de estudo da tese de doutorado em Administração da pesquisadora Vanessa Cepellos, pela Fundação Getúlio Vargas. Vanessa entrevistou 58 executivas, com 40 anos ou mais, para entender como elas vivenciam o processo de envelhecimento, saber que barreiras invisíveis tiveram de enfrentar e do que tiveram de abdicar em nome da carreira.


A pesquisa mostrou que a passagem do tempo é mais dolorosa para as mulheres pelo fato de elas serem consideradas “velhas” antes dos homens. Com a expectativa de vida das brasileiras em 79 anos, segundo o IBGE, a aposentadoria poderia representar a possibilidade de um novo ciclo para essas mulheres. No entanto, muitas ainda têm dificuldade – e medo – de pensar no que fazer após a carreira tradicional. Leia trechos da conversa a seguir.


Quem são as executivas brasileiras em vias de se aposentar e como encaram o envelhecimento?


São mulheres que começaram a trabalhar muito cedo em busca de independência financeira mas que acabaram se dedicando muito à carreira. Elas subiram de nível apesar do teto de vidro – as barreiras invisíveis que dificultam a ascensão feminina no mercado de trabalho, como a priorização dos homens em relação às mulheres no momento de uma promoção, pelo temor de que elas se ausentem mais do trabalho por conta da maternidade, por exemplo.


A sensação de esforço e da necessidade de ter que se provar mais competentes do que colegas homens é muito grande. Por causa disso, muitas abriram mão da vida pessoal. A aposentadoria seria o momento de resgatar tudo isso, de dedicar mais tempo aos filhos, amigos, família e a elas mesmas.


Mas, no geral, por causa da decadência física, elas vêem o envelhecimento como algo negativo, apesar de também reconhecerem que essa fase da vida traz maturidade, sabedoria e experiência. Mas sentem que isso nem sempre é aproveitado e valorizado pela sociedade e pelo mercado.


Quais as principais dificuldades enfrentadas por elas durante a trajetória profissional?


Muitas enfrentaram preconceito, assédio sexual e ausência de modelos femininos de gestão. Além de trabalhar mais tempo do que os colegas homens para provar sua competência, muitas passaram por um processo de masculinização, como mecanismo de defesa para conseguir o respeito dos pares.


Uma das entrevistadas conta que um chefe achava que ela era lésbica simplesmente por ocupar o cargo que ocupava – e ela era casada com um homem. Se vestir desse jeito foi um caminho que ela encontrou para os homens a respeitarem no início da carreira.

Além disso, há demandas pessoais por parte dos filhos, pais e maridos. A mulher ainda se sente muito responsável pela esfera doméstica e necessita dedicar muitos esforços às demandas. Ao assumir múltiplos papéis sociais, ela alega falta de tempo para si mesma e busca equilíbrio.

O que elas pensam em fazer depois de se aposentar?

Muitas têm dificuldade em responder isso. Como trabalham há muito tempo com algo de que gostam, isso não é algo em que costumam pensar. Porém, outras já vivem um processo de experimentação, inclusive com atividades que não têm nada a ver com a carreira que trilham.

Esse é um lado positivo do envelhecimento, que traz para muitas essa possibilidade de autoconhecimento e de achar que é possível ter uma nova vida. É um processo de morte e renascimento simbólicos. Percebi que aquelas que decidem lidar com esses desafios de um modo positivo conseguem aplacar esse pavor da finitude. A mulher passa a encarar esse momento como uma possibilidade de deixar um legado e renascer.


Qual a importância dessa primeira geração de mulheres executivas?

Ao assumir sua primeira posição como executiva, uma entrevistada precisou pedir para criarem um banheiro feminino, pois não existia no andar. Ela abriu caminho, literalmente. Antigamente, as mulheres nem olhavam para cima, pois só viam homens ocupando determinados cargos.


Havia uma sensação de que não era possível chegar lá e muitas nem sequer tentavam. Vivemos um momento de transição. Ainda que em menor quantidade, essas mulheres ajudaram a inspirar jovens profissionais a serem mais ambiciosas. Pelo contexto histórico-social em que a mulher está habituada a sofrer pressão e preconceito, muitas não acreditam em si mesmas. É uma espécie teto de vidro psicológico. Hoje, já há diretoras com uma atitude mais pró-ativa de incentivar outras mulheres a aceitarem promoções e mostrar que é possível chegar lá seguindo um modelo de trabalho diferente do masculino.


Para ler a tese completa, acesse https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/16640


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